Última atualização: 15/04/2024
Este relatório trimestral visa fornecer um panorama sobre os principais fatores que influenciam o mercado, análises detalhadas das tendências recentes e previsões para os próximos meses.
Aspectos altistas:
- Fator climático. Apesar de ser ter sido citado no panorama anterior (jan/24), os motivos agora são outros. De um lado, temos efeitos do El Niño que, assim como trouxe calor excessivo para o Brasil desde meados de 2023, está agora levando temperaturas muito acima da média para o Vietnã, que se aproxima do verão e está em período de florada. Impressiona também a falta de chuvas por lá: ainda não houve precipitação significativa em 2024, e chuvas abaixo da média em novembro e dezembro. As próximas semanas serão críticas para o potencial produtivo do país, e as previsões até o momento não são animadoras. Por outro lado, temos uma saída rápida do El Niño, que deve lugar a La Niña após poucos meses es neutralidade. Os modelos atualmente indicam que a La Niña se estabelecerá no trimstre junho/julho/agosto, com potencial (ainda muito pequeno) de trazer geadas para as regiões produtoras brasileiras. Apesar de ser um evento pouco provável, tem potencial de afetar muito os preços, pois já estamos com a oferta de café limitada frente a uma demanda resiliente. Desta forma, a possibilidade já traz stress ao mercado, que apresenta maior volatilidade.
- A economia dos EUA: outro fator que já estava presente no último panorama. Naquela data, o mercado precificava o início dos cortes de juros no país norte-americano (atualmente em 5,5%) em maio, com a taxa ao final do ano em 4,25%. Hoje, o cenário é bem mais desafiador: início dos cortes apenas em julho, e com taxa ao final do ano em 5%. Os dados da economia estadunidense são bastante difusos, ora apresentando sinais de desaceleração, ora demonstrando muita força. Fato é que a inflação não está recuando, exigindo taxas de juros elevadas por mais tempo.
- Estoques de café: Temos tanto estoques certificados (em Nova Iorque e Londres), como estoques em portos europeus em níveis historicamente baixos. A queda dos estoques de robusta, divulgados pela Federação Europeia de Café, é preocupante: 8% apenas no mês de fevereiro, e 54% em relação aos níveis de fevereiro de 2023. Alguns compradores postergaram compras na expectativa de preços menores, porém os preços futuros estão muito fortes, não dando sinais de que cairão no curto/médio prazo.
- Instabilidade geopolítica: No último panorama comentamos sobre altas nos preços de fretes em razão de conflitos no Mar Vermelho. Hoje os preços já estão 24% abaixo do pico, registrado em 25/01/24, porém ainda estão 84% acima dos níveis antes do início dos ataques. Apesar da alta no preço, não há maiores complicações, pois a oferta de navios é suficiente para compensar o aumento do tempo de viagem necessário para contornar o continente africano e evitar a passaagem pelo canal de Suez. Por outro lado, agora há o risco do conflito Israel x Irã escalar e tomar proporções mundiais, envolvendo países como Rússia, China e EUA. O medo do mercado é também um eventual bloqueio do Estreito de Ormuz, responsável por cerca de um terço do comércio mundial de petróleo. Apesar disso, tanto a Arábia Saudita como os Emirados Árabes Unidos possuem oleodutos, capazes de atenuar o impacto de um eventual bloqueio, que é dado como improvável no momento, pois o risco diplomático é grande para o Irã caso opte por este caminho.
- Mudança estrutural no Vietnã: Desde agosto de 2021 a China passou a permitir a importação de duriã fresco do Vietnã. O comércio da fruta entre os países, que era próximo de zero em 2021, evoluiu para U$188 millhões em 2022 e para U$2,1 bilhões em 2023, e segue em ascensão. Fato é que a fruta tem um rendimento (dólares/ha) muito superior ao café. Enquanto o café vietnamita traz receita de aproximadamente 10 mil dólares por hectare (nos preços atuais de 3.700 dólares/tonelata), o duriã atualmente deixa receita de 48 mil dólares por hectare (mesmo com muitas plantações ainda não 100% maduras). Com isso, produtores possuem incentivo a produzir o duriã em detrimento ao café. Em fevereiro o ministro da agricultura do país disse que até 2030 a expectativa é que o Vietnã possua cerca de 650 mil hectares produzindo café, ou seja, aumento de 7%, ou 1,2% ao ano, o que é abaixo do crescimento da demanda mundial por café. Desta forma, temos uma grande oportunidade para o Brasil, ao mesmo tempo que pressiona os preços no longo prazo.
Aspectos baixistas:
- Efeitos do La Niña na Ásia: Se por um lado o La Niña pode trazer geadas para o Brasil, pode levar temperaturas mais amenas e mais chuvas para o sudeste asiático, que sofre com stress hídrico pela segunda safra consecutiva. Com isso, teríamos uma elevação do potencial produtivo de Vietnã, Indonésia e Índia, três dos cinco maiores produtores de café robusta. Esse efeito, porém, é esperado somente para a safra de 2025/26, não fazendo impacto nos preços a curto e médio prazo.